A magia não acaba hoje...

   #Você já deve ter ouvido falar de Harry Potter, a não ser que viva na Lua. E deve saber que, com o lançamento do último filme, a saga está próxima do fim. No entanto, o fenômeno deve permanecer vivo entre os leitores mais jovens graças às interações com a internet e os livros digitais#.  

  #A série de sete livros escrita pela britânica J.K. Rowling faz sucesso até entre quem não gosta muito de ler. Para a pesquisadora Ana Claudia Munari, que defendeu um trabalho de doutorado sobre os leitores da saga, o êxito das histórias do bruxo são fruto do enredo, dos personagens e do momento em que surgiu. “Temos uma história densa em que o leitor é transportado para um mundo paralelo. A fábula sobre um herói que precisa vencer obstáculos para transformar o mundo e, durante a jornada, deve descobrir a si mesmo e se tornar autônomo vem fascinando a humanidade desde que começamos a narrar”.

 #A linguagem coloquial, mas não menos elaborada, adotada pela autora facilita a compreensão dos leitores mais novos. “É simples sem subestimar o leitor. Suas ironias são sutis e, se você não entende, não importa, segue adiante, porque quer resolver a fábula”. No entanto, uma pessoa com um repertório maior será capaz de entender as referências aos mitos e até visualizar questões sociais mais amplas, como nazismo, terrorismo e preconceito. “Não é porque nós tornamos adultos que não temos vontade de fazer mágica para resolvermos problemas. Fazer o chefe desaparecer, perder uns quilinhos, limpar a cozinha ou fazer aquela pessoa se encantar pela gente”, completa#.
   #Para a pesquisadora, qualquer um com mais de 11 anos pode se identificar com os livros e personagens de Harry Potter. “Todas as questões humanas que ali se desenrolam são identificáveis: solidão, medo, dúvida e dificuldade de aceitação, assim como o companheirismo, a coragem, a bondade e todas as artimanhas que os protagonistas inventam para resolver problemas”. Segundo ela, os leitores jovens aparecem mais porque são os mais ativos na internet e redes sociais, mas muitos adultos, que até sentem vergonha de confessar, são fãs da série de livros e filmes.
  #O fim de Harry Potter?
   #Além da história envolvente, outro fator que, provavelmente não foi previsto por Rowling, é o momento em que Harry nasceu. Na era de convergência de mídias, as aventuras do bruxo saíram do papel, foram transformadas e ganharam espaço no mundo virtual. “Os leitores, ávidos por responder ao texto, receberam um canal para essa resposta: a internet. Eles colocaram a obra a circular, interpretando-a, recriando-a, abrindo seus esquemas para mais e mais lacunas”, diz Ana#. 

  #A pesquisadora começou a perceber a força de Harry Potter ao notar que, mesmo seus alunos que não gostavam de ler e escrever redações para a escola, esperavam ansiosos pelos novos livros do bruxo e publicavam fanfictions (histórias paralelas baseadas no universo da obra) sobre os personagens de Rowling na internet. O texto também convida à participação com objetos mágicos e lacunas. “A imaginação desse leitor é muito solicitada, e ele responde o tempo todo durante a leitura”, diz#. 

   #Não pense que o fenômeno Harry Potter vai desaparecer como num passe de mágica depois que acabar a euforia do filme final. A autora, que já provou entender de sucesso, quer fazer com que a obra continue circulando. “Rowling quer conquistar os leitores da nova geração. Criou o site Pottermore, onde fãs vão se misturar aos novos leitores para continuar a leitura junto com ela”, diz Ana. Como os mais jovens preferem “hiperler” (ler em plataformas que podem ser linkadas com outros elementos como vídeos ou textos complementares), Harry deve migrar para os livros digitais em breve. “A estratégia dos e-books é fundamental”. Para ela, a interação entre mídias, que partiu dos fãs, foi essencial para o crescimento do fenômeno#. 

  #De acordo com a pesquisadora, a perpetuação da série de livros vai depender das práticas educacionais que envolverem a obra e do uso da tecnologia do momento. “Rowling sabe que, se não oferecer seus livros para a geração Z, ele deixará de ser lido num futuro próximo (...) É uma narrativa fascinante que merece ser contada e recontada pelas gerações seguintes, seja de que maneira for”, diz#.